Marca de carro brasileira! Por que não existe?
Na verdade, já existiu e ainda existem. As marcas de capital brasileiro atualmente são: Agrale, Americar, Marcopolo e TAC. Já tivemos também a Gurgel, Lobini e a Troller (agora de propriedade da Ford). O empresário Eike Batista também já investiu no ramo, quando fundou a JPX. Mas assim como suas atuais companhias, acabou indo para o fundo do poço e falindo. O problema é que todos estes veículos são de nicho e os que tentaram arriscar a popularização acabaram se dando mal. Por que isso acontece? Por que somos o único pais dos BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) sem uma marca de carros própria?
Leia também
Quero deixar claro que este artigo é um ensaio sobre a situação e de forma alguma substituirá estudos científicos que já ocorreram por economistas renomados. Aqui, quero levantar alguns pontos e deixar claro que nós e nosso Governo temos grande culpa nisso.
A política automobilística brasileira
Desde quando começamos a incentivar a política de consumo de carros no Brasil assim como a fabricação destes, fomos bombardeados por empresas de todos os cantos do mundo instalando suas bases de operações por aqui. Em nenhum momento nossas políticas públicas obrigariam estas empresas a deixarem suas tecnologias e fazerem investimentos tecnológicos em nosso país. O resultado sempre foi de carros com as tecnologias baratas (leia-se: já ultrapassadas no país de origem do veículo), de baixa qualidade e segurança e um valor extremamente caro.
A partir de 2002, como vários economistas já destacaram, houve um “boom” no incentivo à indústria automobilística no Brasil. As concessionárias bateram recordes de vendas. Fábricas e mais fábricas abriram. Lula e os “petralhas” deixaram o povo feliz com o fácil acesso ao crédito e veículos “baratos”. O resultado? Congestionamentos sem fim, ruas esburacadas, transporte público prejudicado pelos investimentos no transporte particular e o bolso de políticos corruptos cada vez mais cheio.
Cabe um parenteses aqui: a base política de Lula do no ABC paulista, um grande pólo automobilístico brasileiro e onde muitos líderes sindicalistas vivem. Você acha que esse incentivo veio “do nada” ou partiu de interesses particulares de um pequeno grupo? De onde saiu o dinheiro que financiou a campanha do Lula, Dilma e seus amigos mensaleiros? Pense um pouco e você começará a conectar os pauzinhos.
Exporto mais barato, vendo no Brasil mais caro
Ao incentivar o consumo, o Brasil criou um cenário bizarro no país. A indústria não conseguia atender à demanda interna, os preços dos veículos se mantinham altos e o Governo continuaria arrecadando mais e mais com cada venda de veículo. Ao mesmo tempo, as mesmas montadoras que vendiam os carros para as concessionárias tinham uma grande parte da frota destinada para a exportação e que não foi usada para suprir nossa carência de veículos. Isso provavelmente deve estar relacionado com metas do Governo, pois este tipo de exportação tem altos incentivos fiscais e ajuda na balança comercial brasileira.
Mais uma vez, não ficamos com benefício algum, além de mais carros ruins pelas ruas afora poluindo aina mais o ar.
A falta de incentivo à inovação
Rússia, Índia e China tem marcas de carros não porque eles são bons. A JAC Motors, por exemplo, que é chinesa, tem cada dia mais problemas em seus veículos, mas que estão pouco a pouco sendo solucionados e eles já estão começando a concorrer com os grandes. Isso não os transformar em uma boa marca, mas mostra que eles estão dispostos a se exporem aos riscos para poderem melhorar e assim, ganhar destaque no mercado. E eles trouxeram muitas inovações tecnológicas para os veículos que as grandes marcas ainda não trouxeram, como motores mais avançados, entre outros, tudo com um preço menor.
Este tipo de atuação no mercado depende de um forte apoio de órgãos estatais e de uma população disposta a crescer, além de muita tecnologia. A China “importou” engenheiros, fábricas e tudo mais, usando muitas vezes de engenharia reversa (desmontar para aprender a montar) para seus próprios veículos. Os países que tem marcas próprias investiram pesado em educação técnica e superior para que eles sejam capazes não apenas de montar mas também criar e construir cada vez melhor.
Enquanto isso, no Brasil, temos um grande incentivo às empresas que já estão aqui e tem em seus bolsos muitos dos políticos lá em cima. Como citei, há uma forte relação entre sindicatos de trabalhadores da área e os patronais com a política brasileira. Nosso conservadorismo empresarial, que considero parte integrante de nosso “Capitalismo Tupiniquim” (termo roubado do excelente economista Ricardo Amorim) não quer novos jogadores nesse cenário. A volta do IPI mais alto para carros importados foi uma das jogadas políticas das montadoras já instaladas aqui no Brasil. E tem gente, principalmente os sindicalistas, que acham que estão fazendo o melhor para o país. Mas na verdade, estão só garantindo seus empregos, mas não por muito tempo.
O prejuízo a longo prazo
Uma marca nacional incentiva a produção científica original. A Vale e a Petrobras, por serem gigantes da mineração e do petróleo, respectivamente, investem pesado em pesquisas. Por isso, estão sempre inovando e competindo mundialmente. A indústria automobilística brasileira não precisa de inovação atualmente, a não ser que o Governo faça uma real interferência, como foi a obrigatoriedade do ABS e Airbag, que já sabemos que é muito pouco. Nós compramos veículos ruins e estamos felizes com isso, porque aquela marca tem Status.
Esse mesmo Status é o que mantém o alto preço dos veículos, pois brasileiro ainda tem a mentalidade burra de achar que pagar mais caro é melhor e vai ser mais legal para mostrar para os vizinhos. E digo burro pois ao mesmo tempo que você desembolsa R$30.000 em um carro popular aqui no Brasil, lá fora você estaria pagando o mesmo por um sedã de luxo, como o Corolla ou o Honda Civic. E completos, com câmbio automático.
O Status ainda é o responsável também por manter você longe de marcas novas. A Dafra, marca de motocicletas brasileiras fabricadas em parceria com fábricas no exterior, está dando um passo importante em assumir os riscos. Com a scooter Citycom 300i ela já mostrou ser muito poderosa e foi a primeira a arriscar com preços mais agressivos nesse setor. Todas as outras empresas estão respondendo a isso e a Dafra a cada ano melhora a qualidade de suas motocicletas. Agora imagine aparecer uma marca de carro nova e brasileira? Quem vai comprar?
Repetindo a mesma história
A Gurgel faliu muito por conta de falta de suporte do governo. Seus carros tinham um design questionável, mas você ainda muitos donos apaixonados e veículos rodando por aí até hoje. O mesmo pode ser dito dos Engesa, veículos inicialmente militares mas que tem suas versões para jipeiros rodando bem por aí. Na época em que estas empresas deram errado, faltou suporte não apenas do governo e do povo, mas faltou também investimentos em tecnologias, ajuda para importar peças, engenheiros, técnicos e ideias de outros países.
Aqui está minha maior crítica: sempre importamos produtos, mas nunca importamos COMO fazer estes produtos para que possamos melhorá-los e fazermos do nosso jeito. Imagine se explorássemos um veículo a álcool com menor consumo e incentivo do Governo para sua produção afim de incentivar nosso biocombustível? Imagine uma empresa brasileira fazendo carros populares a biodiesel, com menor consumo? Tudo isso seria possível, se o Governo incentivasse investimentos nessas áreas, coisa que não faz.
Considerações Finais
Temos um país onde o consumo é incentivado e as motivações políticas de nossos governantes altamente questionáveis. Não há incentivo algum à produção e principalmente, à infraestrutura que suporte a exportação e venda desta produção. Temos um país pobre intelectualmente e em patentes tecnológicas. Não possuímos nenhuma das tecnologias de nossos veículos. Vá e pergunte a algum engenheiro brasileiro de carros se ele já teve a oportunidade de criar alguma tecnologia que possa ser usada no mundo inteiro. Aposto que eles te darão a mesma resposta: usamos o que já existe. Porque sempre pegamos as “sobras” dos outros países.
Sobre o autor
O pai de André já teve alguns carros clássicos antes de falecer, como Diplomata, Chevette e Opala. Após completar 18 anos, tirou carteira de moto e carro, comprando então sua primeira moto, uma Honda Sahara 350. Fez um curso de mecânica de motos para começar uma restauração na moto, e acabou aprendendo também como consertar alguns problemas de carros. Seu primeiro carro foi uma Nissan Grand Livina de 2014 e pretende em breve comprar uma picape diesel. No caminho, vai compartilhando tudo que aprende no site Carro de Garagem.
Veja também
Lista completa das fábricas de cada montadora de veículos no Brasil
Só airbag e ABS adiantam? Acorda Brasil!
Feirões de carros de agências e concessionarias! Vale mesmo a pena?
Taxa de álcool na gasolina em outros países!
7 comentários para: “Marca de carro brasileira! Por que não existe?”
César
Triste mas verdade.
Paulo R.o. Valdastri
Se o povo brasileiro deixar de esperar “cair” do céu, coisas que são necessárias à sua melhor condição de vida, como por exemplo : Educação, TUDO neste Brasil seria diferente, a começar pelos governantes que estamos colocando onde não são merecedores.
Pollyana
Um brasileiro trabalha anos e junta dinheiro para comprar uma moto, eis a questão, compra uma Honda mesmo estando sendo roubado pelo preço absurdo ou compra uma dafra, paga barato, mas fica a pé constantemente, visita constante a autorizada. Resumindo, é mais que status é pagar mais caro pra não passar raiva.
Mateus
O mais impressionante é que países subdesenvolvidos como: China, Índia, Rússia e até o Líbano possuem empresas de carros, menos o Brasil e outros países. Outra coisa muito impressionante, é que todos os 10 países mais ricos do mundo possuem empresas de carros, dentre os 10 o Brasil é o único que não possui. Isso é muito vergonhoso.
Filipe Plucenio
Só pra constar, não podemos esquecer da PUMA que na minha opinião foi a marca brasileira de maior sucesso, inclusive exportando carros pro continente africano.
Wellington
Dessa não sabia
Antonio
Eu mesmo fiz o motor do meu carro… Tenho um torno mecânico no meu galpão e sou engenheiro, a tecnologia de que preciso eu mesmo adapto. Praticamente apenas o bloco do motor não foi feito por mim, mas o eixo do motor e varias das peças mais importantes eu mesmo quem fiz. Estou até trabalhando num projeto de um motor novo que não utilize biela para transferir movimento para o eixo, nesse caso ganharia eficiência com diminuição do atrito pois não haveria pistões e nem a relação RL.