Problemas mais comuns nos carros mais baratos!

Em Automóveis e veículos por André M. Coelho

Um dos fatos mais consumados no Brasil é que, em comparação com diversos países no exterior, inclusos os emergentes, temos carroças sendo vendidas para o motorista brasileiro médio a preço de ouro. Em outras palavras: carros ruins sendo vendidos a preços absurdos.

Em uma conversa que tive com uma ex-funcionária de uma montadora, ela disse que cada veículo tem, no mínimo, 47% de margem de lucro para a montadora. Isso sem excluir a parcela que vai para a concessionária. Esta mesma colega afirmou que a partir do momento em que a margem de lucro cai abaixo de 47%, o veículo é retirado de circulação.

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Não podemos afirmar que todas as montadoras são assim ou sequer assumir que isso é uma verdade absoluta. Mas já temos muitos dados sobre o Custo Brasil e o Lucro Brasil. Inclusive, um funcionário de alto cargo de uma marca famosa já disse uma frase com o seguinte conteúdo: por que reduzir os preços se mesmo alto as pessoas continuam pagando? Há questões éticas, sociais e econômicas que deveriam ser consideradas pelas montadoras no Brasil.

Para tentar ajudar em uma mudança dessa situação, queremos que muitas pessoas tenham acesso a informações sobre a qualidade dos veículos brasileiros. Não estamos falando apenas de motores e mecânica: estamos falando de prestação de serviços, qualidade de pós venda e muitos outros fatores que influenciam diretamente na qualidade dos veículos brasileiros. Fatores os quais entraremos em mais detalhes abaixo.

Falta de competitividade

Por curiosidade, visite qualquer site de uma marca de carros no Brasil e logo depois, visite o site da mesma marca no exterior. Veja a quantidade de tipos de veículos disponibilizados aqui e a quantidade de lá. Imagine agora que são dezenas de marcas competindo com os veículos mais diversos. Nesse cenário, quem tem baixa qualidade perde muito e acaba perdendo mercado. Foi o caso com a GM, que não investiu em qualidade e entrou em crise, principalmente com a massiva entrada da competição asiática de alta qualidade no mercado norte americano.

No Brasil, temos um protecionismo aos carros “nacionais”, que são todos fabricados por montadoras estrangeiras e que não transferem tecnologia alguma para o nosso país, pagando royalties ao exterior. Então, o protecionismo hoje só serve para barrar um aumento na qualidade que aconteceria com uma entrada de importados a preços mais competitivos. Já vivemos isso há alguns anos atrás com a baixa do IPI, ou você acha que a obrigatoriedade do Airbag e do ABS foi só por causa de segurança? Falando neles…

Falta de competitividade de modelos de carros

Esses carros na foto são quase todos os modelos disponíveis no Brasil por duas montadoras. São 8 modelos. Lá fora, existem no mínimo o dobro disso, das mesmas montadoras. Você acha que isso incentiva a competição? (Foto: www.car.blog.br)

Airbag, ABS e itens de segurança de baixa qualidade nos carros populares

Em uma entrevista recente, um engenheiro da Volskswagen foi questionado por quê o Golf no Brasil tem uma pontuação menor em segurança do que o mesmo Golf fabricado na Alemanha, sendo que até o preço aqui é mais alto. Ele disse que enquanto o Golf brasileiro tem as soldas do chassi reforçadas duas a três vezes, na Alemanha esse número sobe para mais de 6 vezes, fortalecendo a estrutura do veículo e tornando-o mais seguro. Tudo, nas palavras do engenheiro, para cortar custos.

Airbags e ABS entram no mesmo barco. Apesar de instituições independentes terem avaliado que estes itens custariam cerca de R$70,00 para as montadoras instalarem e fabricarem, o preço adicional aos veículos com estes itens de segurança supera os R$1.000. Mesmo assim, os carros que já foram atualizados para a nova legislação ainda continuam com pontuação baixa em segurança, dado que eles usam os sistemas mais básicos, baratos e de má qualidade. Em resumo: sucata tecnológica dos países sede das montadoras.

Falta de acessórios e opcionais

Enquanto você ainda tiver a aba do site norte americano de uma marca de veículos aberta, visite a parte de acessórios e opcionais do veículo. Você será bombardeado com dezenas, quiçá centenas de opcionais e acessórios para incrementar o seu veículo e personalizá-lo do seu jeito. Faça o mesmo com o site de uma montadora de carros brasileira e chore por não morar fora do país.

Muitos acessórios são estéticos, justiça seja feita. Mas outros são de extremo conforto, como por exemplo um sistema que estaciona o carro sozinho, que está disponível inclusive para veículos tidos como populares. Aqui, isso seria com certeza considerado um item de luxo.

Farsa da evolução dos veículos no Brasil

Ao ver esse comparativo, parece que realmente houve uma evolução nos carros populares. Mas evolução com peças de pior qualidade pode ser considerada realmente uma melhoria ou tentativa de enganar o consumidor? (Foto: carros.ig.com.br)

Peças, opcionais, acessórios, líquidos de arrefecimento, óleo de transmissão e óleo de motor de baixa qualidade

Não obstante a falta de opções para personalizar seu veículo, quando elas existem são também de péssima qualidade. Não são raras as histórias de carros que dois a três meses após saírem da concessionária tiveram problemas com computadores de bordo, tapetes desfiando e outros problemas ainda piores.

Um exemplo são os veículos que utilizam óleo de transmissão. Muitos veículos, ao completarem menos de 30 mil km, começam a ter problemas com a transmissão e ao levar o veículo para a manutenção, o dono descobre que o fluido de transmissão estava já velho. Outro exemplo são as velas, que mal duram 20 mil km, enquanto nos EUA você tem velas que duram mais de 100 mil km (sim, você leu certo). Não preciso também dizer de veículos populares que começam a formar ferrugem no sistema de arrefecimento com menos de seis meses de uso, com o líquido de arrefecimento recomendado pela fábrica.

A desculpa para tudo isso? Corte de custos, impostos, blá, blá, blá. A mesma ladainha para continuar com os mesmos problemas.

Controle de qualidade, garantia e pós-venda de péssima qualidade

Eu tinha pensado em separar essas três categorias, mas pensei bem e tenho certeza que elas estão relacionadas. Pesquise no Youtube por vídeos de usuários que tiveram problemas com carros 0 km. Você verá histórias de clientes que menos de 1 km após deixada a concessionária tiveram problemas dos mais diversos, desde uma simples calota do pneu soltar até a transmissão que não encaixava a primeira marcha.

Não bastasse esse tipo de problema com a falta de um bom controle de qualidade nos veículos populares, ao retornar à concessionária, o máximo que eles te oferecem é o reparo do problema. São pouquíssimas, se é que existem, as montadoras que oferecem a troca do veículo para o proprietário. Isso seria o correto e sensato a ser feito. Novamente, você verá histórias de pessoas que passaram mais de um ano com o veículo dando os mesmos problemas, mesmo após os reparos.

Acabou aí? Não! Quando você tenta então resolver o problema com a concessionária ou montadora, os funcionários e responsáveis te tratam como se você fosse um peso e não um cliente valorizado. Até mesmo para as revisões obrigatórias, conto nos dedos as concessionárias que te atendem bem. Parece que no momento que você pega a chave do carro, as cortinas do espetáculo maravilhoso da venda de um veículo se fecham e você pode ver que os atores eram na verdade criminosos disfarçados. Eles sequer são capazes de te fazer uma ligação lembrando que sua revisão está perto ou fazer uma checagem completa do seu veículo junto a você.

Isso depois desses vendedores terem te empurrado uns extras, como:

Opcionais de conforto que encarecem demais o veículo

Onde já se viu duas portas extras, item básico de conforto, custar mais de R$2.000 para um veículo? Isso porque sequer citei o ar condicionado, que chega a adicionar até mais do já absurdo preço de R$8.000! E olha que nem acrescentei as direções elétrica/hidráulica…

Importante dizer que no exterior, a grande MAIORIA desses itens de conforto são item de série, sendo que nos EUA são RARÍSSIMOS os carros com direção manual. E aqui no Brasil? Pegue seu peso na academia e malhe seus músculos para passar as marchas e mexer nesse volante.

Motores com problemas de engenharia/Carros não tropicalizados (leia-se “abrasileirados”)

Motores que vazam óleo com menos de 20 mil km. Sistemas de arrefecimento com vazamentos. Suportes de motor com folgas e que precisam de trocas por peças caras. Suspensões com percurso curto, prejudicando a estabilidade do veículo nas “excelentes” vias brasileiras.

Ao trazer um veículo para o Brasil, muitas das montadoras sequer se preocupam em adaptar a engenharia para o clima do Brasil ou as necessidades de nossas vias.Já vi carros populares com uma suspensão que deixava o veículo a menos de dois palmos do chão. Ou um motor que tinha problema de superaquecimento mesmo sendo quase zero. Isso simplesmente porque o motorista morava em uma cidade de praia.

Para trazer um veículo para o Brasil não bastaria tropicalizá-lo. Ele é “abrasileirado”, que acontece quando os engenheiros das montadoras dão um “jeitinho” para adaptar as tecnologias para nosso país.

Ilusão de segurança nos carros brasileiros

Antes de achar que o airbag e ABS de série obrigatório são uma grande vitória para o motorista brasileiro, veja a avaliação de segurança dos carros populares. De nada adianta um saco de ar inflando na sua frente quando a estrutura frontal do carro inteiro não deforma corretamente e te atravessa no meio. (Foto: www.destakjornal.com.br)

Considerações Finais

Oficinas mecânicas da concessionária com muito má qualidade de atendimento e serviço (já vi cárter com mais de um parafuso quebrado devido a torque em excesso aplicado), poucas opções de cores para o veículo e quando elas existem são muito caras, falta de negociação de preços dos veículos, baixa qualidade para aumentar as margens de lucro…É tanta coisa que um só artigo não bastaria para tudo isso.

Ao invés de terminar pedindo apenas a participação dos leitores, quero contar uma história, assim como todos os exemplos que acima citei, mas pela qual minha mãe passou. Ela tem mais de 60 anos, é funcionária pública e sabe poupar bem seu dinheiro. Foi pesquisar o preço de um modelo de carro popular em uma concessionária. Deixo claro aqui que ela tinha dinheiro para pagar à vista, dado que tinha recebido o seguro de um carro antigo que teve perda total.

Minha mãe não é do tipo perua, sequer anda com qualquer peça cara de roupa ou joalheria. Ela passa os fins de semana em um sítio da família, curtindo a vida mansa. Ao ser atendida por um vendedor da concessionária, ele a tratou como se ela fosse apenas mais uma, não uma cliente potencial. Em outras palavras: a tratou como se ela fosse uma pobre coitada que não teria dinheiro para comprar o carro.

Infelizmente, como era a única concessionária na cidade, minha mãe teve que se contentar apenas com a troca de vendedor. Problema semelhante passamos quando compramos minha moto, quando a primeira vendedora que nos atendeu sequer nos deu opções para os valores que tínhamos como limites.

Vocês já passaram situações semelhantes? Compartilhem, critiquem as concessionárias e montadoras, liguem para o SAC delas. Quem sabe eles em algum momento não passarão a nos ouvir?

Sobre o autor

Autor André M. Coelho

O pai de André já teve alguns carros clássicos antes de falecer, como Diplomata, Chevette e Opala. Após completar 18 anos, tirou carteira de moto e carro, comprando então sua primeira moto, uma Honda Sahara 350. Fez um curso de mecânica de motos para começar uma restauração na moto, e acabou aprendendo também como consertar alguns problemas de carros. Seu primeiro carro foi uma Nissan Grand Livina de 2014 e pretende em breve comprar uma picape diesel. No caminho, vai compartilhando tudo que aprende no site Carro de Garagem.

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